Eu queria de alguma forma conseguir tirar de dentro de mim essa dor, que
fosse em forma de palavras regadas de lágrimas, que fosse em forma de gritos de
desespero ou que seja em forma de amor, eu só preciso explodir antes que eu me
imploda.
São tantos anos cultivando porquês, indagações sem respostas, plantio
sem colheita. É tanto tempo dedicado a ser uma pessoa melhor tendo como
resultado muitas horas e momentos que fazem as feridas sangrarem a cada vez que
você lembra ter algum vestígio de tudo isso dentro de sí.
Chega uma hora que você começa a não entender mais qual é o seu
propósito, a não conseguir suportar o peso das memórias e seguir em frente, mesmo que
você deixe rastros sangrentos pelo caminho. É a hora que você questiona a sua
vida, o seu existir e o que estás fazendo aqui.
Eu não quero que a resposta de tudo isso seja simplesmente por eu ser
insuficiente. Eu estou aqui e eu tenho orgulho do que me tornei, das batalhas
pelas quais passei, sozinho, sem ter um abraço ou um afago, um carinho, e sem
luz! Foi na escuridão que eu andei, foi das cinzas que eu fiz a minha mistura
que resultou em cores as quais pintei cada um dos meus dias em que pude abrir a
janela.
E eu desisti de querer, e quando eu penso em querer algo, eu peço
desculpas por achar estar pedindo demais, já que eu já tenho o que eu mereço,
me sinto culpado por querer mais do que conquistei até aqui, e se eu merecer
algo a mais, que eu saiba como agradecer.
Eu me sinto feliz com quem eu sou, e eu não me sinto insuficiente, porém
eu sinto que não é o bastante, eu me sinto só, eu sinto um vazio sem fim, como
se tudo o que eu fosse estivesse sendo subutilizado, desvalorizado.
Eu sou forte, e eu ouvi isso justamente das pessoas que me derrubaram,
das pessoas que contribuíram para que eu carregasse marcas e cicatrizes que nem
o tempo parece conseguir apagar, e tenho consciência que o caminho a seguir
ainda é escuro, com espinhos e solitário.
Eu só queria conseguir entender o porquê estamos aqui cultivando e
criado vínculos afetivos com pessoas as quais iremos perder, seja por abandono
ou pelo curso natural da vida, não faz sentido, e mesmo assim eu não veria
outra forma se não fosse assim, eu não quero ter que deixar de sentir, de amar,
de semear amor, só porque o outro não soube valorizar o que tanto merece
respeito, os sentimentos alheios.
Eu preciso de um motivo para continuar sendo forte e lutando, eu quero
deixar uma história escrita, um legado ao qual ninguém jamais conseguirá
apagar, eu quero deixar a minha marca aqui na Terra. Eu quero construir e edificar relações, eu
quero valorizar pequenos momentos como o nascer e o pôr do sol, o bater das
asas de uma borboleta, essa que não consegue enxergar a beleza das próprias
asas, e ainda assim parece não precisar de motivos para seguir em frente.
Tudo parece estar muito errado, e talvez eu nem me sinta parte desse
erro.
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